quinta-feira, 11 de março de 2010



a sua ausência não é apenas a corda na garganta,
é como se tivessem me arrancado os dentes um a um..
o seu desapego é o golpe final de um coturno na minha
cabeça, com a boca aberta no meio-fio.. o seu desprezo
é o ferro quente escrevendo insultos no meu ventre..
o seu silêncio é uma porção de cacos de vidro dilacerando
os meus braços.. a sua indiferença são os cascos dos
cavalos trotando em minhas costas.. a sua frieza é
uma pistola armada dentro da minha boceta.. o seu
desinteresse são ratos vivos que eu vou engolindo um
a um.. a sua falta é um punhal no meu coração, um tiro
na minha cabeça, os miolos rolando pelas paredes brancas..
a sua perda é a perda de todo e qualquer sentimento
que eu pude sentir, é perder um pouco do ser humano
que eu havia criado, é perder um pouco do sangue que
sentia correr nas minhas veias.. agora eu só sinto
uma coisa ácida, um veneno, uma morte.. e eu vou morrendo
pouco a pouco, vou desaparecendo da cena, a peça está
chegando ao fim, e todos estão enganados, não será melhor
assim, não será melhor nunca.. eu vou continuar existindo
longe da vida, longe da roda gigante, assistindo o passar
das cabines, o passar dos risos, dos amores alheios.. vou me
lembrar de quando nós estávamos em uma cabine, quando
você pegou na minha mão, quando você me olhou como mulher,
quando você me quis, quando lambeu meu corpo inteiro,
quando me fez sentir o que eu não vou mais sentir por
ninguém, quando eu pude dizer que era feliz, quando deitei
a cabeça em seu ombro, quando dormimos juntos e você me abraçou..

2 words:

nana disse...

extremamente bonito e dolorido.

menina disse...

²

.-.